A descoberta dos Chícharos
Chicharos em A) demolha; B) demolhado e C) já cozido. Fotos de Luís Neves
A cultura gastronómica vive do conforto de sabermos o que esperar de um determinado prato ou condimento. Mas também do gosto de ser surpreendido pela descoberta de um ingrediente ou sabor.
De passagem pelo mercado da fruta, nas Caldas da Rainha, para comprar pêras e maçãs de produtores locais, parei na banca das leguminosas para apreciar os tremoços e pevides. Ali estavam à venda “chícharos”. Ora aí estava a oportunidade certa de saber mais sobre esta leguminosa de nome bizarro.
Os chícharos têm uma legião de fãs. A definição mais comum desta leguminosa é “uma coisa entre o grão e o tremoço”. Parece um tremoço mas tem uma textura próxima do grão, sendo que não sabe nem a um nem a outro. É comida de inverno e tem personalidade própria. Esclarecidos? Há que provar.
Assim foi. Comprei um saquinho. É fácil de fazer. Demolham-se de um dia para o outro e cozem-se cerca de uma hora com cuidado para não ficarem demasiado desfeitos ou duros. Há quem acrescente à água da cozedura uma colher de bicarbonato de soda para facilitar o processo. A gestão do tempo é crucial, como em tudo na cozinha.
No meu caso, dadas as circunstâncias (de fim-de-semana a caminho do almoço de aniversário da minha mãe) acompanhou ovos enrolados em carne, uma receita da infância em casa dos pais. “Metidos a martelo”, já que a vontade de os provar era grande.
Por coincidência, o Gonçalo, amigo de Ourém e devoto deste manjar, estava nesse mesmo dia a comer chícharos da maneira mais usual. Gabou a imagem dos que cozi. Sorte de principiante.
No rescaldo desta primeira experiência, fica a sugestão de uma incursão pelas terras dos chícharos - serras de Sicó-Alvaiázere - para saber mais sobre esta leguminosa de alto valor nutritivo, local, de cultura sustentável e que caracteriza a identidade da região do pinhal interior e seus usos culinários.
Sugestão musical: Orquestra Típica de Ourém