A pesca na Fajã dos Padres

Vinha Malvasia na Fajã dos Padres, Madeira. Foto de Luís Neves

A Fajã dos Padres é um lugar abençoado. Na terra chã, língua estreita entre o mar e a falésia, tudo nasce e cresce. Habitada desde o início do povoamento da Ilha da Madeira, no século XV, pela Companhia de Jesus por ser muito fértil, fornecia trigo para a Ordem no Funchal, por via marítima, já que por terra o acesso era difícil, perigoso e demorado. 

Seguiu os diferentes ciclos da ilha e na sua pequena extensão a produção é em quantidade e qualidade. As fajãs, locais conquistados ao mar por desmoronamento das falésias, são planas e aprazíveis, junto ao mar, mas quase sempre com limitações para lá chegar. Atualmente, desce-se à Fajã dos Padres num cómodo, rápido e seguro teleférico. As vertigens devem ficar no bolso. A técnica é respirar fundo e apreciar a vista durante os trezentos metros de altura sem pensar onde estamos. O destino é surpreendente e vale a pena. Garanto que resulta! 

Pescador na Fajã dos Padres, Madeira. Foto de Luís Neves

Também o mar é generoso. No pequeno pontão do cais, um ou dois homens locais retiram do mar Pargos, Bodiões, Salemas e outras espécies de peixe, apenas com uma linha. Sem pressas que o tempo aqui tem a medida do ciclo da terra sem a azáfama da mente humana. Na ponta da linha um anzol e um pequeno pedaço de camarão. É quanto baste! Sentados com os pés virados para a água, lançam com mestria a linha. Ora mais perto, ora para dois ou três metros de distância. A natureza é tão fértil que não precisam de cana nem de esforço, ou muita paciência. Esperam sentados à beira da água e o peixe vem ter com eles. Do alto do pontão vê-se vários peixes a nadar nervosamente e identificam-se tal a transparência da água. Fui apresentado a uma Trombeta, que desconhecia a existência, e rapidamente desapareceu para outras paragens depois de a ter visto. Dependendo da distância do lançamento, chega a dar para escolher o peixe que se retira, evitando espécies menos nobres.  Com os dois ou três peixes necessários para o dia no balde, os pescadores deixam o pontão. Amanhã apanha-se o que for preciso, e assim sucessivamente.

Sentados no restaurante da Fajã dos Padres, depois de um mergulho em mar aberto a partir do pontão, talvez nos calhe na ementa um dos peixes acabados de sair do mar, tal como nós, ainda com a pele temperada do sal do atlântico. 

Depois disso, só mesmo um brinde à generosidade da Criação, com um vinho de casta malvasia, produzido nesta terra a que apetece chamar Paraíso. 

Sugestão musical: Rumo di Mar, por António Chainho e Sara Tavares.

Previous
Previous

Feijão com Couve

Next
Next

The Glossary of the Gastronautas