Chá de Limonete

Há sempre um chá para todas as ocasiões. Um chá “preto” nas suas muitas variações e variedades, “verde” ou até uma infusão de ervas, muito usadas pelas avós como mezinhas para curar maleitas. A cultura “Celeiro” é a atual herdeira dessa prática depois do eclipse das ervanárias, em voga algumas décadas atrás.

Lembro-me muito bem do aroma das folhas secas de limonete e de como fervidas deixavam na água uma intensa cor - entre o verde e o amarelo - e um sabor igual ao do cheiro. Memória olfativa da infância e dos lugares onde apanhávamos estas ervas dum arbusto na altura maior do que eu. Ainda hoje, onde quer que esteja e encontre limonete, o mundo dos afetos geográficos e do passado volta como se fosse agora, para os lados da Figueira da Foz. Basta o leve cheiro cítrico e o passado faz-se presente…  

Limonete é uma espécie de “apelido”, usado nalgumas regiões. Esta planta é mais conhecida como lúcia-lima ou bela Luísa. Há quem lhe chame também doce-lima, verbena, cidrilha, cidrão, cedrina, salva-limão ou falsa-erva-cidreira. Em inglês lemon verbena ou lemon beebrush.

Para mim é, sempre será, limonete. Mesmo que quase ninguém assim lhe chame e quase sempre tenha de traduzir. 

Diz a bula popular ou dos especialistas nestas áreas que é relaxante, sedativo, anti-depressivo, digestivo, alivia dores abdominais e combate a acidez gástrica. Folhas e flores, ambas usadas na infusão, têm propriedades antiespamódicas e antipiréticas e ajudam a curar constipações. 

Uma coisa é certa, sabe bem, quente ou frio. 

Recentemente encontrei na feira de Almoçageme (Sintra) uma planta de limonete à venda. Comprei-a e vou pô-la na terra ancestral para crescer e dar cheiro e sabor. E cor à água. A infusão é simples de fazer. Água a 90 graus, cerca de 3g de limonete por litro durante sete minutos, para abrir. Coar e servir. O aroma é frutado, com notas cítricas de casca de limão. As folhas podem também aromatizar saladas ou ser cozinhadas. 

A plantar, de nome científico Aloysia triphylla, atinge a floração no verão e perde a folha no inverno. Se bem secas, as folhas duram o ano inteiro e perfumam a casa. Consta que é originária da Argentina e do Chile e que chegou à Europa trazida pelos espanhóis no século XVIII, ganhando nome de Maria Luísa em honra da mulher de Carlos IV, rei de Espanha.

“Chá de Limonete” é também o nome de uma peça de teatro, com texto de José da Silva Ribeiro, musicada por António Simões. Levada à cena pela primeira vez a  26 de outubro de 1950, no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, “Chá de Limonete (Histórias de Tavarede)” é uma “fantasia” em 3 actos e 24 quadros que conta a evolução desta terra desde o início da nacionalidade até à data da representação. Tavarede é uma freguesia do município da Figueira da Foz. A abrir a peça, no 1º Acto, estão em cena o Chá, o Açúcar e as Chávenas de Chá (o coro). E o mote é dado pelas três dezenas de vozes das Chávenas:

“O chá que vamos beber

Um produto nacional

Sem rival - 

É uma bebida famosa, 

De todas as mais gostosa,

Saborosa, 

Que na terra pode haver

Melhor que o chá de parreira

Do orago S. Martinho

Puro vinho -

Que ao povo torna alegrete, 

Um cházinho de primeira, 

Que bem cheira

É o chá de limonete.”

E o aviso fica feito na abertura para o que se segue, de história local e sátira: 

“ Mas são as pessoas crescidas que mais precisam de um cházinho… de limonete…”.

Ora, nem mais!

Sugestão de leitura: Chá de Limonete (Histórias de Tavarede). Fantasia em 3 Actos e 24 Quadros, peça de Teatro escrita por José da Silva Ribeiro, musicada por António Simões, representada pelo grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense. 

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