Eu tenho dois amores
Uma é loura, outra morena. São irmãs e rivais.
Durante décadas, no Mercado da Figueira da Foz disputavam clientes e angariaram legiões de fãs. De família de pescadores, apostaram na venda de pescado como forma de vida. O saboroso camarão da nossa costa era rei na marginal de Buarcos aos fins-de-semana, vendido em medidas de madeira.
Depois abriram restaurantes e ganharam fama fora das bancas da praça. São duas das principais marcas da Figueira da Foz e de Buarcos.
Até a política as separa. Uma socialista, soarista, ostenta a fotografia de Mário Soares ao peito. Outra social democrata, íntima de Santana Lopes.
Irmãs de sangue, rivais no negócio, em tudo na vida em pólos opostos.
Divertidas, generosas, amigas do seu amigo. Boas pessoas. Embaixadoras da terra que amam e as viu nascer, vestem a rigor os aventais tradicionais, bordados pelas mãos habilidosas do Rui Mamede.
Pelo apelido de família ninguém as conhece (Botija da Gorda), mas pelo nome próprio e alcunha são famosas. Falamos das irmãs Rosa Amélia e Celeste Russa.
A primeira teve vários restaurantes e nos últimos tempos podíamos encontrá-la na Marisqueira Rosa Amélia (Tamargueira). A segunda na Plataforma da Celeste Russa. Espaços icónicos de peixe fresco, marisco e bem servir.
A História de Buarcos e da Figueira da Foz passa por estas duas mulheres de armas e sem papas na língua. Personalidades fortes, empreendedoras, construíram sem preconceitos um império matriarcal, a partir da identidade da sua terra.
Na cozinha dos seus restaurantes, nas bancas do mercado, a desfilar no Carnaval, nos media, numa campanha política, em qualquer parte do país ou do mundo levam sempre no peito, na voz e na atitude a vida de quem ganha, a partir do mar e da terra natal, o respeito e admiração de toda a gente.
Ex-libris da cultura gastronómica nacional, são duas mulheres genuínas, maiores do que a vida e que se podem orgulhar do seu percurso.
Viva a Rosa Amélia, viva a Celeste Russa!
Rosa Amélia na Praça da Alegria, RTP