Senhora da Alegria
Agosto é tempo de rumar a norte, mais fresco e festivo do que o sul.
A caminho da grande romaria do país, a senhora da Agonia, em Viana do Castelo, iniciámos o trajecto gastronómico nos arredores de Coimbra, na margem direita do rio Mondego. Culpados, o óbvio pastel de Tentúgal, mas também - e sobretudo - a queijada de Pereira. A ela voltarei um dia porque é uma das protagonistas da minha vida gastronauta.
Ao invés de pararmos numa das casas de pastéis na estrada nacional 111 (entre Montemor-o-velho e Coimbra) que cumprem bem a função, entrámos mesmo na vila, terra pacata cujo património imóvel faz intuir um passado abastado e glorioso.
Cirandando por ruas e memórias do Infante D. Pedro, entre Igrejas, conventos e solares vazios e em ruína, reencontramos A Casa Arménio, um restaurante que faz dos produtos locais - arroz e aves; queijadas e pastéis - a sua oferta exclusiva.
Num restaurante sem peixe, a conversa na mesa ao lado girava em torno das melhores opções piscícolas e do desejo de um dos presentes em matar saudades de um Rodovalho grelhado, em Aveiro. À boa portuguesa e após algumas diligências telefónicas de aconselhamento local, um dos amigos identificou o restaurante e marcou o dia, com antecedência porque a espécie não abunda.
Entre garfadas de arroz de galo do campo, o Rodovalho dos “vizinhos” ficou a pairar no nosso caminho. Seguimos em direção a Viana sem perder tempo.
Viana do Castelo vive com alegria a senhora da Agonia. E a gastronomia também. Sente-se no ar da cidade, nos rostos das pessoas e nas mesas dos restaurantes. Num misto entre reforçar a tradição e arriscar, confirmámos a excelência da “Tasquinha da Linda” e incluímos na lista, a repetir, “O Pescador”.
Várias pessoas de diferentes origens sugeriram “O Pescador”. Restaurante de locais, clientela transversal, com bom peixe e marisco. No centro da cidade e bem popular, um local bom para conhecer as idiossincrasias sociais desta parte do minho.
Fomos lá e adivinhem qual era um dos peixes do dia?
RODOVALHO grelhado. Acertaram! Com legumes e batata a murro. A escolha estava feita, mesmo antes de ver o resto da lista. Guardado estava o pecado…
Fresco e delicioso, no ponto! Acompanhado ou, como dizem agora, harmonizado, com Alvarinho de Monção e Melgaço. Viva a senhora da Alegria!
Dezoito quilómetros depois (calcorreados a pé por toda a cidade engalanada), calhou-nos ao jantar o melhor Sargo grelhado do universo, inteiro para não secar que aqui no reino da Linda não se pratica a moda do “escalado”. Do início ao fim, da entrada à saída, da sopa de peixe, passando pela original e saborosa batata a murro - que um dia me fez corar de vergonha por ter tido o desplante de perguntar à Linda qual era o segredo… - tudo mas tudo na “A Tasquinha da Linda” é superlativo.
No início do jantar o casal franco/belga/espanhol/francês/norte americano da mesa ao lado perguntava-nos: “Conhecem este restaurante? Fizemos bem em vir aqui?”.
Sorrimos e ficámos amigos de infância, como só acontece à volta de uma mesa.
No final, brindaram connosco a plenos pulmões: Viva a Senhora da Alegria!
Sugestão cultural: Visita ao navio Gil Eannes - memória viva da assistência à pesca do bacalhau