Um padrinho em Quiaios

Rui Mamede a desfazer o fermento de padeiro. Fotografia de Luís Neves

O Rui Mamede é uma pessoa rara. Homem dos sete ofícios e mil talentos tem nas suas mãos habilidosas o ganha pão.

Visitar o seu atelier é sempre uma surpresa.

“O que estás a fazer agora, Rui?”

Um vestido de gala, um fato de homem, rendas de bilros, uma fantasia de carnaval... Tudo o que se possa imaginar a partir de um tecido, linhas e agulhas, à mão ou à máquina.

Ex libris do  talento do Rui, os famosos aventais bordados das peixeiras são apreciados pela beleza, minúcia de execução, originalidade e riqueza dos desenhos. A vaidade é delas , o engenho e arte é do Rui. 

Andou pelo mundo mas foi na terra natal que decidiu partilhar os seus talentos.

Actor, agricultor, cuidador , contador de histórias, designer de moda de profissão , canta e dança num rancho folclórico. À maneira do renascimento, “toca todos os burros”. E sempre bem.

Por alturas da Páscoa , é vê-lo na cozinha, sob olhar atento da mãe a cumprir a tradição do folar. Desfaz o fermento com o mesmo carinho que dá um ponto no tecido. Segue a receita dos ancestrais - ovos farinha especiarias - amassa a preceito em gestos herdados que executa com mestria sem pensar.

Prontos , distribui as três dezenas de folares ainda quentes pelos afilhados e por quem lhe encomendou por já não ter forças para meter a mão na massa ou sequer ter aprendido a fazê-los. Cada migalha deste folar tem em si a vida de todos os que nos precederam , o que nos legaram. A isso o Rui juntou uma pitada de “amor”.

Do padrinho, para os afilhados, assim se cumpre a tradição do folar no tempo pascal em Quiaios. Assim é o Rui, nascido em 1971, um homem de todos os tempos, um herói da terra para os Gastronautas. 

Sugestão musical: Fado da Sina, por Aldina Duarte

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