Arroz “malandrinho”
Em Itália há risottos. Em Espanha, paellas. Na China impera o arroz xau-xau. Na India, o de caril e no Japão em sushi. Outros haverá pelo mundo fora, com diversos graus de cozedura, de várias espécies e tamanhos, com mais ou menos goma, como prato principal ou acompanhamento.
Em Portugal, reina o arroz “malandrinho”, feito com diversos ingredientes, mas sempre muito saboroso. No supermercado é rotulado de Carolino, um grão longo (sub-espécie japónica) que permite pratos caldosos, como os famosos arrozes de tomate e feijão. Nos tempos que correm, ganha terreno o agulha (também longo mas estreito, da sub-espécie indica), como acompanhamento por ficar solto e, verdade seja dita, mais fácil de cozinhar e de sair bem. Mas na cozinha tradicional portuguesa, um saboroso arroz de marisco ou de polvo impõe o Carolino, para ser “malandrinho”, com caldo. É esse o tipo de arroz adequado. Assim como para o arroz doce.
Em Portugal consumimos quase 20kg de arroz per capita por ano, o valor mais alto em toda a Europa. Seguem-nos os espanhóis. Gostamos mesmo de arroz, mas não somos auto-suficientes, apesar dos 25 mil hectares cultivados nas três bacias onde se produz: Tejo, Sado e Mondego. As alterações climáticas e a escassez de água têm, nalguns anos, impedido o cultivo de vastas áreas. Preocupante.
Este cereal estava de tal forma enraizado na cultura popular que muitos pais quando queriam repreender os filhos ameaçavam de forma enfática “ai ai, vou te dar o arroz”. Era sinal de que estavam zangados por termos feito asneira. Tínhamos sido “malandrinhos”… Tal como o Carolino.
Música: Pó de Arroz, Carlos Paião