Amar a Terra
Iolanda de Sousa Silva é madeirense e transporta vida fora, no que é e no que faz, essa marca de maternidade.
Como tantos portugueses nascidos nas regiões autónomas, desembarcou no continente no início da idade adulta para continuar os estudos, em meados dos anos 80 do século passado.
Cursou línguas e trabalhou em turismo na linha de Cascais, onde fixou residência. Mais tarde, arriscou, abriu uma cafetaria em Oeiras e tornou-se empreendedora. O negócio corria bem, mas a consciência de que não havia oferta de produtos madeirenses no continente deu-lhe forças para expandi-lo.
Em 2018 deu um passo em frente e inaugurou “Amar a Terra”, no bairro lisboeta de Alvalade, uma escolha que se revelou acertada.
“Amar a Terra” é, além do nome do estabelecimento, a premissa definidora deste projeto de vida. Iolanda faz do carinho e respeito pela sua ilha-mãe um modo de vida. Na capital, num dos bairros residenciais com mais comércio local, a loja tornou-se uma referência muito à conta da simpatia da proprietária e da qualidade dos produtos, uma marca da casa. A ponto de, carinhosamente no bairro, “Amar a Terra” ser mais conhecido como “a loja da madeirense”, o que a deixa orgulhosa.
Iolanda passa “a pente fino” as Ilhas da Madeira e do Porto Santo, de norte a sul, este a oeste à procura do melhor da cultura gastronómica insular. Quase todos os meses visita o arquipélago e faz esse garimpo, descobrindo produtos genuínos ou inovadores, do mais pequeno produtor pouco conhecido até ao mais afamado. Assim aconteceu, por exemplo, com um empreendedor madeirense que associa chocolate a iguarias regionais e, claro, já está à venda em Lisboa. A cada visita à loja, as novidades não param e as prateleiras enchem-se de coisas boas, desde rum produzido num alambique diferente às compotas do Porto Santo.
O que a move é procurar o genuíno, ajudando dessa forma produtores locais a divulgar e escoar o que de melhor se produz no seu arquipélago. Fruto desta curadoria, exigente, prova-se que na Madeira há gosto e cuidado na produção artesanal, mas com muita qualidade.
O bolo do caco, a poncha e as queijadas são os produtos estrelas. O bolo de mel, o vinho e os rebuçados também saem bem. Vende tudo o que é característico daquele pedacinho de terra da macaronésia, inclusive o milho e as lapas. Recebe todas as semanas produtos da Ilha. A terra, o clima e a vontade das pessoas são os ingredientes do sucesso destas iguarias.
A loja é ponto de encontro de madeirenses no centro da capital, mas não só. Vêm pessoas desde Vila Franca de Xira, a Sintra comprar queijadas ou vinhos. Muitos dos frequentadores do bairro de Alvalade e residentes também já são clientes habituais destes sabores da Madeira porque se habituaram às coisas da terra da Iolanda.
Entretanto, em 2022, “Amar a Terra” recebeu a certificação do Governo Regional da Madeira porque tem 80% de produtos regionais de qualidade. A distinção torna “a loja da madeirense” uma espécie de embaixada da Ilha em Lisboa.
O papel de embaixadora Iolanda veste-o na perfeição. Faz parte da Confraria Enogastronómica da Madeira e nessa função corre o país de lés a lés a promover a gastronomia do arquipélago e os seus produtos.
Estuda a hipótese de expandir a loja para outros lugares, mas ainda não decidiu. No negócio, conta com a ajuda dos filhos e vai programando com calma o futuro.
O apelo da Ilha mantém-se, por enquanto visita-a em trabalho e faz eventos gastronómicos pontuais. Volta à Ilha sempre com a vontade de quem regressa ao colo da mãe. Admira as excelentes condições de vida no arquipélago e, quando abrandar o ritmo de trabalho, aspira passar lá mais tempo, quem sabe a promover produtos genuínos do continente no pequeno pedaço de paraíso onde nasceu, em 1966.
Yolanda é, para os Gastronautas, um Herói da Terra.
Sugestão musical: Que mulher é essa, A garota não