A do Manel

Sopa de tomate no “Manel” em Nossa Senhora de Machede. Photo by Filipe Gill

Chama-se Café Popular mas todos dizem “vou à do Manel”. Na aldeia nomeiam-no como o ponto de encontro. Popular é nome correcto mas só usado no toldo por cima da porta e por turistas. 

A vida de Nossa Senhora de Machede (arredores de Évora) gira em torno do Popular, como certamente em tempos idos girava ao redor da Igreja, agora fechada nos dias comuns.

A mesa na do Manel também é sagrada. Nas paredes pinturas de paisagem que se adivinham do próprio e fotografias de gente da terra, como Júlio António Pimenta, artesão de couro que ganhou fama e tem no seu filho competente seguidor. A um canto, um giradiscos e uma coleção de vinis encabeçados pelo Zambujo.

Pinturas e fotografias no Café ombreiam com o ciclo de frescos no templo representando Sibilas e Profetas, pintado no início do século XVII. Cada lugar, sua função. Para elevação do espírito, ou para deleite do corpo. 

De produtos sazonais da terra faz-se o milagre no Popular. No tempo das favas, o caldo. Na época do tomate, a sopa. Às quintas, cozido. De tudo, na do Manel se faz caldos para molhar o pão, como deve ser neste Alentejo. À parte, o prato das carnes fritas e enchidos. 

No cozido, ao altar chega em primeiro lugar a sopa, leve como não se espera e à qual depois se acrescenta as carnes, as couves e os demais participantes. Simples, parece, tal a mestria da cozinheira Cristina, mulher do Manel. 

O Popular é um templo sagrado a que o comum dos mortais tem acesso à mesa e felicidade garantida. 

Sugestão musical: Trago Alentejo na Voz, António Zambujo & Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento

Sugestão de visita: atelier do artesão Joaquim Pimenta

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