As Papas Laberças

“Papas Laberças”, receita e fotografia de Luís Neves

Papas Laberças… nome intriga e não desvenda do que são feitas. Fazem parte daquele pequeno número de receitas que não se auto apresentam.  Quem não sabe o que é, pelo nome não chega lá.

A designação nao inclui o desfile dos ingredientes como fazem chefes renomados na carta de restaurantes. A bem dizer, as papas laberças não têm lugar num menu de degustação nem no receituário da moda. Ainda!

Lá chegarão. São conforto de tempos passados e memória longínqua a redescobrir.

Cheguei às Laberças através do livro A Alta Estremadura - Romance Gastronómico, da autoria de José Marques da Cruz. Fiquei curioso.

O nome torna-as distintivas e com potencial de sucesso. No denotativo menu do chefe apareceria qualquer coisa como “sopa de farinha de milho e couves”. Alguém poderia acrescentar à estranheza ou franzir de sobrolho do cliente “é uma espécie de caldo verde feito com milho, característico  na região da estremadura, eixo Coimbra-Leiria, mas caído no esquecimento”. Podem ter feijão e outros ingredientes, dependendo do costume das casas onde eram confeccionadas, tantas vezes aproveitando restos que a farinha fazia crescer.

Em tempos insípidos, as Laberças têm os condimentos imprescindíveis  para serem um sucesso: um nome peculiar e chamativo, ingredientes saudáveis e veganos, um sabor inesperado e autenticidade.

Mais ou menos espessas, de acordo com a quantidade de farinha de milho, as Papas Laberças estão no ponto certo, falta o storytelling para as vender como a próxima coca-cola do deserto.

Com a farinha de milho regional da Água Retorta, variedade salva da extinção e produzida na Quinta do Sanguinhal, fiz a minha estreia nas Laberças. Segui a receita incluída no romance gastronómico, nada mais fácil. Água, azeite e sal, farinha de milho (250g) e uma couve pequena comprada na praça de Monte Real.

O resultado? Adivinhem! Façam as papas e depois contem-me se as Laberças não merecem uma menção honrosa no panteão dos gastronautas…

Sugestão de leitura: A Alta Estremadura - romance gastronómico, da autoria de José Marques da Cruz e com prefácio de José Hermano Saraiva.

NOTA: Descobrimos a variedade regional de milho da Água Retorta num trabalho de campo em São Miguel (Açores) para os Hotéis Octant.

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