A Sopa Caramela
Caramela é uma sopa. Pelo nome não se chega lá, digo eu. Que ingredientes terá? De onde lhe virá a denominação?
As mais gratificantes descobertas gastronómicas são quase sempre inusitadas. Inesperadas, mesmo!
Assim aconteceu com a Sopa Caramela. Uma reunião à hora do almoço, “petiscamos qualquer coisa ali para os lados do Pinhal Novo para aproveitar o tempo…”, combinámos ao telefone, foi a causa do encontro com a iguaria.
Na ementa do restaurante, “O Central”, o confronto com o prato. Sopa Caramela? “O que é isto?”, pergunto. Rui Pinto (timoneiro da casa com a mulher e, mais tarde soubemos, ativistas da causa da Caramela), responde com um sorriso de quem antevê o desfecho. E lá explica, mas não demasiado e sem elevar as expectativas, que na comida como na vida a gestão das ditas é o segredo para avaliação superlativa.
A Sopa Caramela é um caldo com tudo o que se pode imaginar, mais três tipos de couve: portuguesa, lombarda e coração de boi.
A surpresa, uma sopa aparentemente “leve” tanto no paladar como na textura, dados os ingredientes entre os quais feijão, massa, carnes e enchidos. Prima da famosa Sopa da Pedra, a Caramela não lhe fica atrás e, de todo, será a parente mais pobre. É, sim, aquele familiar desconhecido que no dia em que somos apresentados passa à categoria de “amigo de infância”.
“O Central” talvez seja um dos epicentros da divulgação deste prato, já com redes sociais e Confraria da iguaria.
Segundo a narrativa, a Caramela surgiu em memória dos migrantes sazonais que vinham de várias partes do país - sobretudo Beira Litoral e Baixo Mondego - trabalhar para os campos na zona de Palmela, Moita e Montijo. Chamavam-lhes “os caramelos” e o caldo de feijão com hortaliça confecionado para lhes dar força e conforto para a jorna diária agarrou, recentemente, o nome no feminino. A Sopa dos Caramelos teria de ser a Caramela.
O Pinhal Novo passou a ser um ponto obrigatório na nossa rota gastronómica, social e cultural, por causa da Caramela, e outras coisas mais que o palato e os restantes sentidos merecem descobrir num território pouco valorizado pela comunidade. “O Central” é o quilómetro zero da descoberta desse território da Caramela.