Arroz de Cricos no Vale do Mondego

Arrozal no Mondego. Foto de Luís Neves

Cricos? O que serão Cricos? Quem sabe?

A resposta está no Rio Mondego e para a encontrarmos  vamos, primeiro, passear pelos arrozais do baixo Mondego, antes de chegarmos à foz… 

No verão, a paisagem dos arrozais é de um verde intenso até a água drenar dos campos, os grãos amadurecerem e estarem prontos para a ceifa, lá para meados de Setembro. 

O processo inicia-se com o alagamento dos campos, seguido do cultivo, em Abril ou Maio, dependendo dos anos. O arroz nasce e cresce dentro de água.  Formoselha, Santo Varão, Verride, Maiorca, Montemor-o-Velho, são  apenas algumas das localidades que vale a pena conhecer. Mas há muito mais. O ideal é ir pelas motas (caminhos que contornam os mosaicos de água onde o arroz é cultivado), mas para isso só com quem conheça os labirintos do baixo Mondego e num veículo todo o terreno. Os nossos anfitriões foram o Zé Filipe e a mulher.

A Cultura do arroz molda a vida e a paisagem da região, assim como a identidade local, presente por exemplo nas danças das mondadeiras ou na tradição de jovens solteiras oferecerem travessas de arroz doce aos convidados dos casamentos das suas amigas. 

No vale do Mondego há registos de ser produzido arroz na Quinta de Fôja (pertencente aos frades crúzios do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra) já no século XVIII. Em meados do século seguinte ganha força, para dar resposta ao aumento do consumo, apesar dos protestos da população por causa do paludismo causado pela estagnação das águas onde é cultivado. A partir de 1950, com a obra de regularização do Mondego aumenta ainda mais a área, por ser considerada uma cultura rica face ao milho, com menor rendimento. 

O certo é que a cultura gastronómica da região junta o arroz com o que o rio, o mar e as gândaras (terrenos agrícolas) dão.

É frequente ouvir falar de canja de arroz com bacalhau, arroz de azedos, de pato, de sardinha, de leite das freiras do convento de nossa senhora do Carmo de Tentúgal, de lampreia, até de caracóis.  

E… de cricos. Assim chegamos aos cricos. Depois de percorrermos os campos de arroz, seguimos para jusante. Já na Foz do Mondego e nas rochas das praias adjacentes sujeitas ao vai e vem das marés, vamos à apanha dos ditos cujos.  Os cricos são os moluscos bivalve que muitos conhecem como berbigão (Cerastoderma edule). Passear abre o apetite, com arroz e cricos, a festa está feita. Que façam bom proveito.


Sugestão de leitura:

Saberes e Sabores do Arroz Carolino do Baixo Mondego, Associação dos Agricultores do Vale do Mondego, enquadramento histórico, Irene Vaquinhas

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Mercês Sousa Ramos