Um Chafariz nas Linhas de Torres
Chuva miudinha, persistente. Terminada a visita ao Centro de Interpretação das Linhas de Torres (CILT), de Sobral de Monte Agraço, a última coisa que apetecia era sair para a rua e enfrentar o tempo húmido.
Acolhedor e bem estruturado, o CILT é um espaço museológico onde se pode conhecer os meandros do sistema de defesa militar – as chamadas Linhas de Torres – fundamental na estratégia que levou ao fim da 3ª invasão francesa, com a retirada definitiva, de território nacional, das tropas do exército napoleónico. Uma página da história de Portugal que merece ser conhecida por todos.
Lá saímos. Na Praça Central de Sobral de Monte Agraço, o passo foi curto. Procurámos abrigo no restaurante “O Chafariz”, sem nenhuma expectativa. Escolha utilitária pela proximidade, condições climatéricas e hora de almoço. Antevia-se uma banal refeição sem história.
Embrenharmo-nos foi descobrir um espaço inesperado cheio de locais, numa terra que parecia deserta. Ânimo a crescer pelo ambiente, grelha à vista e pratos a circular no ar.
Quarta-feira, dia de “Canja de aba de novilho”. Venha então esse prato desconhecido. Traduzindo por miúdos, uma peça da aba, cozida, servida com ervilhas, batata e cenoura com caldo à parte com alguns grãos de arroz e hortelã. “E como se come isto?” perguntei. “Como quiser”, disseram-nos, “vá molhando a carne no caldo”. A subtileza de sabores de um prato aparentado do cozido à portuguesa, sem o excesso de ingredientes do primo famoso e muito menos gordura, por isso mais saudável.
Mas que grande canja no Sobral de Monte Agraço. Prato original do Chafariz, comida caseira, bem confeccionada, saborosa e honesta, num espaço familiar despretensioso a merecer uma visita nos restantes dias da semana para experimentar os outros pratos fixos semanais.
E do Chafariz, felizes e de papo cheio, saímos enfrentando a chuva e o vento forte, para visitar o forte do Alqueidão, um dos 152 construídos para defender Lisboa das invasões francesas.
Sugestão de leitura: Jean, John e João, de Ricardo Henriques e André Letria, Editora Pato Lógico
(Como as linhas de torres coseram as vidas de um francês, de um inglês e de um português num rol de estratégias e peripécias, ora trágicas ora anedóticas, que ditaram o princípio do fim da megalomania do pequeno Napoleão Bonaparte)