O Fado do Gaspacho na tasquinha da Ti Tóia
Évora, cidade património mundial da UNESCO, é conhecida por ter muitos e bons restaurantes. A gastronomia alentejana tem nesta cidade um bom palco e mostruário. Para todos os gostos.
Visitar a cidade num Domingo, sem marcar restaurante, pode ser um tiro no pé. É chato, mas o sucesso do turismo tem destas coisas.
Aconteceu-nos. Fomos parar a Évora sem contar, a caminho de outro destino. Batemos com o nariz na porta de meia dúzia de restaurantes, a outros tantos telefonámos e… ou cheios ou fechados. E se a lista é grande…
Tarde e a más horas, esfomeados, caminhámos derrotados e desanimados, convencidos de que não iríamos almoçar. Paciência, também não é o fim-de-mundo. De repente, ao virar de uma esquina, uma pequena porta semi-aberta e um reclame anunciado a Tasca da Ti Tóia.
Entrámos, a medo mas a fome fala mais alto. No balcão, Tóia desenganando-nos, porque apenas tinha um resto de três saladas, de feijão frade com atum, grão e pimentos, que não dava para nada, afiançava. E uns carapaus fritos da véspera. Honestidade acima de tudo!
Insistimos tanto que dividiu o que havia por três pratos. E foram as melhores saladas que comi em toda a minha vida, as três no mesmo prato, tempero irrepreensível com toques de vinagre na dose certa.
Tóia é uma força da natureza. Sai do balcão para gerir a relação dos três inesperados clientes com dois habitués. Inteligente. A irmã, a almoçar tardiamente também na exígua sala onde há três ou quatro mesas, ajuda-a a servir-nos. Dá-nos conversa e nós também lhes damos. Criou-se um clima divertido e amigo. Estávamos em casa, em todos os sentidos.
A Tasquinha é a sua vida. Cuidadora, zela pelos clientes. No dia em que o Tripa (octogenário a quem cortava a palavra sempre que temia alguma inconveniência) não aparece, liga para saber onde anda. Responsabilidade social. Amizade.
Tóia canta Fado, se os clientes para aí a virarem. Gostou de nós e nós dela. Deu-nos uma palhinha.
E é assim a nossa vida
Constantemente vivida
E quase sempre a trabalhar
E se um dia a morte vem
E nós deixamos sempre alguém
Com saudades a chorar
Prometido ficou um Gaspacho, à sua moda. Assim seja, o mais breve possível, querida Ti Tóia. Na tasquinha mais despretensiosa, honesta e verdadeira que um Gastronauta anseia encontrar. Bem haja Ti Tóia, que também é património mundial.
Música: Fado do Sobreiro